Olhar o passado: ao contrário de o lamentar e sofrer, temos que o transformar numa fonte de alegria, por pior que ele tenha sido.

V.GAMITO - C.CAÇ.2357




MUTARARA




NOBRE POVO: NOBRE GENTE.
Em 1970 substitui o então Capitão de Artilharia, Samuel Amaral, no comando da CCaç 2357 que tinha sido transferida para a Mutarara, depois de terem estado toda a comissão em Vila Gamito. Foi uma agradável surpresa o ter encontrado uma das melhores Unidades Militares a que tive a honra de pertencer! Nos gratificantes tempos que passamos juntos dei conta dos magníficos Militares que comandava, quer pelas narrativas, de que me fui enteirando sobre a intensa actividade operacional que tinham desenvolvido na região do Furancungo-Tete, quer pelos relatórios das acções a que tive acesso, quer pela constatação pessoal da forma como todas as missões eram e tinham sido cumpridas. Foi, porém, a qualidade daquela gente, o seu apurado espírito de disciplina e aprumo o que hoje retenho daqueles magníficos tempos. Não obstante não ter compartilhado dos mesmos riscos, mantive e desenvolvi até hoje amizades profundas. Tive a honra de ter sido comandado por um dos melhores Comandantes, o Coronel José Afonso, a quem fiquei ligado por uma grande amizade de que muito me serviu em situações bem diferentes daquelas em que o conheci; posso e devo dar testemunho da sua extraordinária competência profissional, do seu patriotismo e da sua formação humana e cultural, que lhe permitiu licenciar-se em Direito e até ter exercido a advocacia com sucesso, depois de ter passado à situação de reserva. A minha saudade e a minha gratidão aqui ficam nesta hora de relembrar e honrar todos os que fizeram parte do BCAÇ 2842 e que, como ele, já partiram. Tenho também a subida Honra de ter comandado a CCAÇ 2357. Para vós SOLDADOS, Nobre Povo e Nobre Gente, que prestaram com HONRA o Serviço Militar à Pátria, tenham sido Oficiais, Sargentos ou Praças, fica também o meu orgulho de ter sido um vosso Camarada. Para os Veteranos de Guerra que se juntarem para comemorar o 40º. Aniversário do BCAÇ 2842, vai o meu abraço e a pouca coisa que é a minha pobre amizade e a minha grande consideração e respeito. . . . João Sena . .
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TESTEMUNHO
.Eu sou de S. Mamede de Infesta, e fui colega de escola do Fur. Arnaldo Santos Silva, ( da C.Caç.2357) que infelizmente faleceu lá em Tete. Tenho até uma história relacionada com ele, que passo a descrever sumariamente. No fim de Março de 1970, vim de férias à Metrópole (falando à moda antiga). Depois de uma atribulada coluna do Muze a Tete, com várias escalas, e com atravessia do Zambeze na Chicoa, fiquei em Tete 1 ou 2 dias , antes de partir para a Beira. Num desses dias, entrei num café em Tete, e encontro o nosso amigo Arnaldo, a jogar bilhar. Depois do natural abraço, e falarmos sobre várias coisas (se calhar até bebemos uma "Laurentina", mas já não me recordo !), disse-lhe que estava em trânsito para vir a Portugal. Aí, ele pediu-me para eu passar por casa dele, e transmitir à sua Mãe e irmãs, que ele se encontrava bem, o que euconstatei "in loco". Assim o fiz. Logo nos primeiros dias que passei em S. Mamede, visitei a s/mãe e irmãs, e disse-lhes que tinha estado pessoalmente com ele, e que estava tudo bem, e que a comissão estava já mais perto do fim. Acabei as férias no fim de Abril. Regresso a Moçambique. Chego a Tete a 02/Maio/70 e apresentei-me no Bat. de Tete. No dia 03/05/1970, estou de Sarg. da Guarda no Batalhão de Tete, e aí soube da morte do Arnaldo. Não o cheguei a ver. Sempre bailou na minha memória este capricho do destino. Eu fui dizer à família, que ele estava bem, e ele faleceu de doença. Mas a vida é mesmo assim...
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Narrado por: .
Carlos Alberto - C.Caç. 2471
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Fotografias cedidas por :
Coronel Abranches Félix
António Batista da C.Cav. 2654