Olhar o passado: ao contrário de o lamentar e sofrer, temos que o transformar numa fonte de alegria, por pior que ele tenha sido.

MOATIZE - C.CAÇ 2359 - ZÓBUÉ - TSANGANO

Arruamento em Moatize
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MOATIZE
.Moatize, pequena vila situada a SE da cidade de Tete, onde predominava um clima do tipo "Tropical Chuvoso de Savana".
Situada apenas a 20 kms de Tete, a vila albergava muitos europeus atraídos pelo trabalho e pelos diversos serviços ali instalados. As muitas moradias dos residentes europeus emprestavam um toque diferente naquela paisagem tipicamente africana.
As suas minas representavam uma fatia importante na economia de Moçambique e um pólo de desenvolvimento para a região. Os seus jazigos de carvão (tipo hulha) estendiam-se por uma vasta área situada a Sul da região montanhosa estendendo-se até ao Rio Zambeze, e eram considerados de muita qualidade.
A vila era atravessada pela estrada Internacional que ligava o Matundo ao Malawi onde diariamente transitavam inúmeros camiões com destino àquele país e vice-versa.
Estava dotada com vários serviços públicos e particulares: Quartel do Exército; Base Aérea; Posto de Administração; Estação dos Correios; Estação de Caminho de Ferro (Terminal Beira-Tete); Parque desportivo do C.F.Moatize; Piscina e Cinema, além de duas cantinas. (Dias e Carlos).
A Base Aérea (Militar) distava uns oito kms no sentido NE e dispunha de uma pista em que poderiam aterrar já certos aviões como o Nord-Atlas.
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Aldeamento da Carbonífera

Minas de Moatize

Estação C. Ferro.
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Vista parcial aquartelamento do Zóbué
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ZÓBUÉ
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Principal posto fronteiriço com o Malawi, ficava a 120 km de Tete e era servido por uma magnífica estrada pela qual diariamente transitavam inúmeros camiões com destino àquele país.
Nos últimos meses de comissão, tivemos o privilégio de conhecer, o Zóbué, um pequeno paraíso, situado no planalto da Angónia, na fronteira com o Malawi, com amplas avenidas de jacarandás, floridos jardins, bem tratados, com casas de alvenaria, cimento, ferro, tijolos, telhas e gente !
O clima era ameno, tipicamente, metropolitano, com estações, bem vincadas. O solo era muito fértil, produzindo toda a sorte de produtos hortícolas e frutos saborosos, sem adubos, sem regas, sem grandes tratamentos. Era a natureza, virgem, em plenitude!
Vimos, pela primeira vez, campos, a perder de vista, com milho, batatas, morangos, tomates… o Sr. Gonçalves, com centenas de assalariados e bom equipamento, fornecia produtos hortícolas, sobretudo, batata, para todo o Moçambique. Era um corropio de viaturas militares e de comboios ao seu serviço…
Lembram-se que o único Carmen Guia que circulava na cidade, de Tete, pertencia a um jovem oficial da manutenção, (chega de má língua!).
Mais tarde, com a guerra intestina entre moçambicanos, era chocante ver na televisão, gente, sub nutrida, com campos excelentes para a horticultura…
Tinha um posto da PIDE, um posto da Guarda-fiscal, um velho médico, branco, natural da província, escola primária, com professora branca, e uma linda missão dos Jesuítas.
A PIDE era chefiada pelo Sr. Sousa, com um ajudante de dois metros de altura, e cento e vinte quilos, (pelo menos!), de peso. Que belos copos…
O posto da Guarda-fiscal era chefiada por um cabo natural de Chaves. Este recebeu um presunto da terra, especial, e, convidou, as forças vivas, para uma festa, o médico, o alferes, o PIDE, o administrador…
O “ilhéu”, ( o Marques foi o padrinho!) como não gostava da dita “carne crua”, nem de enchidos, próprios das zonas frias, toda a festa foi “massacrado” pelo diligente anfitrião, para comer mais um pouco… Que não fizesse cerimónia!
Discretamente, durante toda a festa, o “ilhéu” introduzia o presunto na boca, fingia que mastigava, e, retirando-o, foi enchendo as floreiras da casa com o dito…
No dia seguinte, o homem de Chaves rogou pragas ao autor do desperdício. Que se não desmanchou. Ainda hoje, não sei se ele descobriu o autor do “crime”…
Convites para a sua casa, não houve mais!
O velho médico, branco, Dr. Arroz, com uma doença, incapacitante, dos membros inferiores, deslocava-se no seu jeep, adaptado, à sua deficiência, de casa para o posto médico e para a cantina do indiano, ponto social de encontro das forças vivas, dias e noites, inteiros. Bebia-se, bebia-se…
A sua jovem companheira, negra, bonita, e o filho de ambos, uma criança, mulata, atestam o marco indelével da diáspora portuguesa. É o que nos resta de 500 anos de aventura pelo Brasil, Angola, Moçambique…
A professora, primária, branca, salvo erro de nome, Rute, filha dum cantineiro, apaixonou-se por um alferes da companhia, anterior, de nome, Jorge. Sei que viveram, em Lisboa, uns anos(encontrei o dito, como empregado numa Companhia de Seguros), terminando, em ruptura, tal romance. Pena!
O Padre superior da missão dos Jesuítas do Zóbué, foi um dia ao quartel sem se anunciar, previamente, em visita Pascal, com o seu séquito… Como crente, pouco crente, beijei os símbolos religiosos que me foram oferecidos.
O Alferes que substitui, e que, ainda, se encontrava presente, era agnóstico!
Pegaram-se o Padre superior e o alferes, com o beija, não beija, que foi o diabo!
Como “castigo”, o Padre Superior já não convidou os “militares “ para carregar o andor de Nª. Sra. de Fátima, na procissão do dia 13 de Maio, como era costume.
(O 2º. Pelotão não foi exemplo em nada!).
Desculpa, Pereira, eras, muito bom, de bola…
O Administrador do Concelho, um, bom, homem de Cabo Verde, era casado, com uma linda, mulata, da cidade de Tete.
De vez em quando, havia “guerra”, feia, entre ambos. Um belo dia, o Administrador conduzia, lentamente, o seu jeep pela estrada Zóbué/Moatize.
Na berma da dita estrada, circulava, a pé, a linda, mulata, sua mulher, zangada, e que se recusava a entrar no jeep.
Ela só entrou no jeep quando muito bem entendeu. Ainda dizem que, naquele altura, os homens é que mandavam…
Os últimos meses de comissão no Zóbué foi uma delícia, um verdadeiro descanso dos “guerreiros”.
A tal ponto que o “Caçador”, casado, com um filho (a), e com a mulher na Metrópole, à sua espera, dirigiu-se-me, nas últimas semanas, antes do embarque, informando-me que decidira ficar ali, a viver com a filha dum cantineiro, instalado no mato.
Foi bom e bonito, demover o “Caçador”, a regressar à Metrópole!
A verdade é que todos os elementos do 2º. Pelotão vieram sãos e salvos.
Foi a “nossa” maior satisfação…
Entrar no Tejo, nas festas antoninas da cidade de Lisboa, foi a cereja sobre o bolo! Uf!
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Narrado por:
Carlos Alves
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Visto de outro lado


A velhinha "Mercedes"


Centro comercial no Malawi

Bomba de gasolina

Plantação de Batata


Vista do Zóbué.
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Aquartelamento do Tsangano
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TSANGANO